Os resultados das últimas pesquisas sobre Educação revelam que os estudantes brasileiros não conseguem avançar na aprendizagem, em especial nas disciplinas de Português e de Matemática. Não é difícil relacionar este cenário alarmante ao conceito de Fake learning, ou falsa educação, que tem reflexos negativos na vida de jovens e adultos.
Os problemas envolvendo o Fake learning começam ainda nos primeiros anos da escola, quando a criança ainda não aprendeu a ler e a escrever, mas ainda assim vivencia o ciclo da alfabetização. Nos ensinos Fundamental e Médio, esse jovem tende a se tornar um estudante pouco engajado, que apresenta complicações em provas e, sobretudo, dificuldades para interpretar um texto relativamente simples.
De acordo com o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017, menos de 10% dos alunos com idade entre 14 e 17 anos da rede privada no Brasil estão no nível avançado do Português. Enquanto isso, os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostram que nenhum estado brasileiro cumpriu as metas estabelecidas para o Ensino Médio no ano passado. Ou seja: o rendimento escolar entre os jovens brasileiros é baixo.
É por quadros como esses que o estudante, ao ingressar no ensino Superior, precisa passar por aulas de nivelamento nas disciplinas generalistas sob o risco de desistir da faculdade. Mais ainda: não conseguem permanecer por muito tempo no mercado de trabalho por não apresentarem as competências e habilidades exigidas pela profissão.
Os dados sobre o analfabetismo no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), também mostram uma realidade que preocupa: 7% da população com 15 anos ou mais é considerada analfabeta. Ou seja, no país cerca de 11,5 milhões de pessoas não sabem ler e escrever.
E quando o assunto é o analfabetismo funcional, uma pesquisa do Ibope Inteligência, fruto de uma parceria entre a ONG Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro, aponta que três em cada dez brasileiros são analfabetos funcionais no país: não conseguem entender e se expressar por meio de letras e números, embora sejam tecnicamente alfabetizados. Inclusive, muitas pessoas não conseguem resolver problemas matemáticos em função de não conseguirem interpretar o texto, compreendendo de maneira equivocada a problemática abordada e, consequentemente, gerando uma resposta diferente da opção correta. Simplesmente por não conseguirem entender o solicitado, desenvolvendo a solução de maneira incorreta.
No livro Ler Escrever e Resolver Problemas (2001), as autoras Kátia Stocco Smole e Maria Ignez Diniz afirmam que “A dificuldade que os alunos encontram em ler e compreender textos de problemas está, entre outros fatores, ligada à ausência de um trabalho específico com o texto do problema. O estilo no qual os problemas de matemática é escrito, a falta de compreensão de um conceito envolvido no problema, o uso de termos específicos da matemática que, portanto, não fazem parte do cotidiano do aluno e até mesmo palavras que têm significados diferentes na matemática e fora dela – total, diferença, ímpar, volume, produto – podem constituir-se em obstáculos para que ocorra a compreensão.”
Estamos diante de um cenário crítico, em que as provas são ineficientes quanto modo de avaliação e os diplomas são entregues em desacordo com o desempenho real do estudante. E é por isso que, de maneira geral, as instituições de ensino precisam repensar suas metodologias, trazendo o indivíduo e suas necessidades para o centro da aprendizagem. Só assim conseguiremos reverter a Fake learning e outros problemas relacionados à Educação.
Fontes:
SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez (Org.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender Matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001
https://novaescola.org.br/conteudo/12398/as-taxas-de-analfabetismo-ainda-sao-altas-no-brasil