Os processos educacionais têm exigido cada vez mais um ensino focado nas competências individuais do estudante e é por isso que os modelos tradicionais de Educação vão ganhando concorrência. Uma delas é o homeschooling, prática de educação domiciliar onde pais ou tutores assumem a responsabilidade pela aprendizagem da criança ou do adolescente.
Atualmente, mais de 60 países, entre eles Canadá, França e Portugal, já têm o homeschoolling como uma realidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, essa modalidade é muito disseminada e já conta com milhões de jovens sendo escolarizados dentro de casa.
No Brasil, o cenário é bem diferente. Um mapeamento da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned) aponta que mais de 5 mil famílias praticam o homeschooling. Entretanto, o tema é motivo de um impasse jurídico: a educação domiciliar não é reconhecida por lei, tampouco regularizada. Ao que tudo indica, essa situação pode mudar em breve, porque o Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar ainda em 2018 uma ação em torno da sua constitucionalidade.
Hoje, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a matrícula obrigatória na rede regular de ensino e a Constituição Federal aponta para a obrigatoriedade da presença do aluno na escola, afirmando que cabe ao poder público a obrigação de recensear, fazer a chamada escolar e zelar para que os pais se responsabilizem pela frequência.
Os pais e tutores encontram no homeschooling uma alternativa ao ensino proposto pelas escolas convencionais. Para eles, a educação domiciliar facilita o amadurecimento, desenvolve a disciplina nos estudos e estimula o gosto pelo aprendizado.
Em geral, também há nestes grupos familiares uma desilusão com o sistema educacional público ou privado, uma preocupação com um convívio prejudicial nas escolas ou simplesmente a vontade de assumir a responsabilidade pela formação dos filhos.
De acordo com a AND, existem três principais características em torno da educação domiciliar: a Educação integral, em que os pais se responsabilizam por todos os aspectos da educação dos filhos, incluindo valores, condutas, questões afetivas e também a instrução formal; a Educação em todo o tempo, onde tudo pode ser oportunidade para aprender, desde a química da fermentação do bolo, a matemática das medidas de massa e capacidade ou os movimentos sociais da nossa história, por exemplo; e o Treino para o aprendizado, onde o papel do pai ou tutor não é o de um professor, mas de um facilitador, que leva os filhos a, de forma autônoma, questionar, pesquisar e buscar o conhecimento.
Uma das principais críticas ao homeschooling está associada ao convívio social. Especialistas em Educação defendem que a aprendizagem em casa limita o acesso dos jovens à diversidade de pensamentos. Alguns argumentos também estão relacionados à dificuldade no preparo de um currículo a ser seguido e à falta de ferramentas adequadas.
Não é de agora que os métodos tradicionais têm sido amplamente questionados e suscitado importantes debates mundo afora. Com possibilidades cada vez mais reais de personalizar o acesso ao conhecimento, é fundamental oferecer aos estudantes, seja dentro ou fora de casa, novos jeitos de aprender.